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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Para ler e gostar: Fernando Pessoa


Autopsicografia


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Para ler e gostar: Fernando Pessoa


Aniversário


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes! a aleg

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O novo valor de uma dona de casa

 
    
 
    
Um homem chegou em casa, após o trabalho, e encontrou seus três filhos brincando do lado de fora, ainda vestindo pijamas.  
   Estavam sujos de terra, cercados por embalagens vazias de comida entregue em casa.  
   A porta do carro da sua esposa estava aberta. 
 

   A porta da frente da casa também. 
 

   O cachorro estava sumido, não veio recebê-lo. 
 

   Enquanto ele entrava em casa, achava mais e mais bagunça. 
 

   A lâmpada da sala estava queimada, o tapete estava enrolado e encostado na parede.  
   Na sala de estar, a televisão ligada berros num desenho animado  qualquer, e o chão estava atulhado de brinquedos e roupas espalhadas.  
   Na cozinha, a pia estava transbordando de pratos; ainda havia café da manhã na mesa, a geladeira estava aberta, tinha comida de cachorro no   chão e até um copo quebrado em cima do balcão.  
  Sem contar que tinha um montinho de areia perto da porta. 
 

 Assustado, ele subiu correndo as escadas, desviando dos  brinquedos espalhados e de peças de roupa suja.  
    'Será que a minha mulher passou mal?' ele pensou. 
 

    'Será que alguma coisa grave aconteceu?' 
 

  Daí ele viu um fio de água correndo pelo chão, vindo do banheiro. 
 

  Lá ele encontrou mais brinquedos no chão, toalhas ensopadas,sabonete líquido espalhado por toda parte e muito papel higiênico na pia.  
 A pasta de dente tinha sido usada e deixada aberta e a banheira transbordando água e espuma.  
 Finalmente, ao entrar no quarto de casal, ele encontrou sua mulher ainda de pijama, na cama, deitada e lendo uma revista.  
 Ele olhou para ela completamente confuso, e perguntou: Que diabos aconteceu aqui em casa?  
 Por que toda essa bagunça? 
 

 Ela sorriu e disse: 
 

    - Todo dia, quando você chega do trabalho, me   pergunta: 
 
   
 '- Afinal de contas, o que você fez o dia inteiro dentro de casa?'      
 -'Bem... Hoje eu não fiz nada, FOFO!

                                                            Foto retirada da internet
No outro dia o FOFO e mulher telefonaram para uma agência de empregos, onde 
encontraram uma (ou talvez tenha sido um) excelente profissional para tratar 
das tarefas domésticas.
A mulher, por sua vez, aceitou aquele emprego que há tempos recusava porque 
achava que só tinha duas alternativas na vida (trabalho doméstico não remunerado ou leitura 
improdutiva de revistas).Hoje ela tem uma carreira bem sucedida, mais tempo para ela
 mesma e a casa sempre arrumada quando ela chega do trabalho. Com os filhos, o tempo
 pode ter diminuído, mas qualidade aumentou. Agora vão ao cinema, à praia, leêm livros
 juntos, uma farra! E o FOFO? Ah, o FOFO está muito feliz, agora ele tem uma companheira 
realizada ao seu lado e a vida não poderia estar melhor. Claro que teve aquela fase em que 
ele teve que passar uns dias na casa da mãe porque sofreu um ataque de machismo e 
precisou ficar de quarentena. Mas ele se cuidou, superou e agora está tudo bem. 
Uma história perfeita!!!

A parte destacada do texto foi escrita por  Larissa Latif,  ficou excelente...ficou 
perfeita!