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terça-feira, 6 de maio de 2014

Para ler e gostar: Cecília Meireles





CANÇÃO DE OUTONO


Perdoa-me, folha seca, 
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo, 
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão, 
se havia gente dormindo 
sobre o própro coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles 
que não se levantarão...

Tu és a folha de outono 
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão... 

Um comentário:

  1. Lindo poema, como linda é a estação! Talvez um pouco triste, sombria, eu diria, mas é a vida dando um tempo para reflorir na primavera. Outono em compasso de espera...
    Um grande abraço, amiga!

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